Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009
O CARTEIRO E O POETA é um filme de 1985. Filme encantador, com belas paisagens italianas, uma verdadeira lição de amizade, poesia e humildade. E como era humilde aquele pescador da ilha...
Mário Ruopollo era um homem simples e quase analfabeto. Filho de um pescador, um homem rude, de poucas palavras e coração endurecido pela vida difícil que levava. A ilha oferecia poucas oportunidades de trabalho sendo basicamente a pescaria a qual Mario rejeitava.
Restava a Mario construir uma vida pessoal, singular e verdadeira, apesar das dificuldades do tempo e do lugar.
A chegada de Pablo Neruda na ilha – exilado de seu país, poeta amado pelas mulheres - foi a chance que Mario precisava para conhecer a vida sob outro prisma, começando aí o seu aprendizado. Carteiro particular de Neruda, acaba por surgir entre eles uma sólida amizade.
Enamorado da bela Beatrice, sem belas palavras para conquistá-la pede ajuda a Neruda para ganhar o coração dessa mulher.
A primeira coisa que o poeta lhe ensinou dizia respeito às metáforas, muito usadas por ele, em suas poesias.
“Metáfora é quando fala uma coisa, mas compara com outra.
Por exemplo, o céu chora, o que quer dizer que está chovendo”.
Mais que uma bela história de amor, esta amizade levou-o a conhecer o mundo com os olhos do coração. Aprendeu a olhar, a observar, a sentir e reconhecer a beleza das coisas. Essa é a experiência das emoções, revelada pelas metáforas, mas principalmente pela presença viva do poeta e abrir caminhos nunca antes trilhados, pois, como afirma Paulo Freire "O domínio sobre os signos lingüísticos escritos, pressupõe uma experiência social que o precede – a da 'leitura' do mundo", chamada de LETRAMENTO.
Além disso, tem uma carga literária emocionante. Retrata uma relevante semelhança com a realidade: a importância da afetividade para a aprendizagem; não teria adquirido o espírito pesquisador e não teria se tornado uma pessoa diferente, corajosa, livre da alienação se não tivesse sido valorizado pelo grande poeta.
Este, exercendo a função de pai apresentou o mundo ao filho, ensinando-o, orientando-o e despertando nele a curiosidade, a criatividade e o movimento em direção ao mundo.
Com a atenção recebida, o afeto crescente e as metáforas, a ilha apareceu com seus sons, seus movimentos, cores e beleza, diante dos olhos extasiados do carteiro. Ele havia aprendido a conhecer o mundo com os olhos do coração. Aprendeu a olhar, a observar, a sentir e reconhecer a beleza das coisas. Essa é a experiência das emoções, revelada pelas metáforas, mas principalmente pela presença viva do poeta.
Através da compreensão da LINGUAGEM, Mario demonstrou um ser de relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Pode-se perceber, que entre a atividade do carteiro e a do poeta, em maior ou menor grau ambos trabalham com a PALAVRA. O que distingue é o ESTILO dos poetas de fazer uso das mesmas. Neruda, poeta letrado, com estilo próprio, fez brotar em Ruopollo, um poeta principiante com alta sensibilidade poética e estilo pessoal.
O desenvolvimento da habilidade do carteiro se deu com grande rapidez, resultado de longas leituras. A LEITURA abre caminho para novas descobertas, ela liberta o indivíduo de sua individualidade, de seu pequeno mundo e lhe permite ver o global e agir sobre ele.
Com o filme, reforçamos a convicção de que as pessoas aprendem com muita facilidade aquilo que interessa a elas. É importante que tornemos as aulas interessantes a nossos alunos, para que os mesmos tenham prazer em avançar em busca da melhor aprendizagem. O filme, também é um exemplo de simplicidade e versatilidade poética. Encanta com suas comparações e metáforas.
Mário era simples, espontâneo, curioso, estudioso, inteligente, emotivo, sensível, puro, honesto. E é com sua pureza, com sua honestidade e sem trair a voz espontânea de sua consciência que ele concebe e realiza sua vida nova. No final, Mario tornou-se um poeta e apaixonado por sua causa Comunista, morreu tentando mostrar sua obra principal.
“A poesia não pertence a quem faz, mas a quem precisa dela.”
Portanto, o conhecimento nao pode ser um instrumento individualizado, mas sim socializado.
MORRE LENTAMENTE - PABLO NERUDA
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar,
morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoínho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante...
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade"
Gestar II – Lages 12/08/09
Cursista: Neiva Machado Rafaeli
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
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